A Perigosa Retórica por Trás dos Ataques de Trump à Venezuela

 (Andrew Harnik/Reuters)

Na semana passada, o mundo assistiu a mais um capítulo da política externa linha dura do governo Trump, a destruição de embarcações suspeitas de tráfico de drogas ao largo da costa da Venezuela. Mas o que mais chamou a atenção não foi apenas a ação em si, foi a justificativa usada para legitimá-la.

A administração Trump tem sido “clara e consistente” em sua narrativa, os traficantes venezuelanos não seriam meros criminosos, mas sim “narco-terroristas” que estariam “enviando uma arma mortal que está envenenando americanos”, supostamente a mando de organizações terroristas.


A ideia não é defender bandido, mas o termo “narco-terroristas” já foi usado por governos anteriores para aumentar a pressão política e militar contra redes de narcotráfico. Sob essa lógica, esses indivíduos deixam de ser suspeitos de crime comum e passam a ser tratados como inimigos em tempo de guerra, alvos legítimos para operações letais, sem necessidade de julgamento, captura ou devido processo legal. É uma porta aberta para execução sumária disfarçada de defesa nacional.


Justiça ou Vingança?

Não há dúvida de que o tráfico de drogas é um problema gravíssimo. Fentanil, metanfetamina e cocaína continuam devastando várias comunidades nos Estados Unidos. Mas responder com ataques militares contra barcos em alto-mar, muitas vezes com tripulações não identificadas, levanta questões profundas.

Quem eram essas pessoas? Havia provas concretas de seu envolvimento com terrorismo? Em que águas ocorreram os ataques? Foram respeitadas as leis internacionais? E, acima de tudo quem decide quem é “terrorista” o suficiente para ser eliminado sem julgamento? A história mostra que, quando governos usam rótulos vagos para justificar força letal, os inocentes muitas vezes pagam o preço.


O Risco de Escalada na América Latina

Além das implicações éticas, há um risco geopolítico real. A Venezuela já vive em crise há anos, com instituições fragilizadas e uma população exausta. Ataques unilaterais por parte dos EUA, ainda mais com base em acusações amplas podem ser vistos como violações da soberania, alimentando o sentimento anti-americanismo na região.